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O casamento é simultaneamente uma relação potencialmente geradora de conflitos e potencialmente geradora de um alto grau de intimidade, aceitação e partilha. Assim sendo, teoricamente, se reduzirmos o potencial para a existência de conflito, juntamente com o aumento de estratégias para a sua resolução e se ao mesmo tempo aumentarmos o potencial de intimidade, aceitação e partilha, poderemos considerar-nos no bom caminho para uma relação estável de bem-estar a dois.

Tentar evitar o conflito não resolvendo o que pode ser resolvido, ou entrar em conflito contínuo, por divergências de carácter permanente, é sem dúvida estar a contribuir para uma relação problemática e desgastante.

No caso dos problemas com solução, (Natal-Casa dos pais ou dos sogros? Dinheiro-obras ou carro novo? Filhos-escola pública ou privada? Etc.) o diálogo, a exposição da visão pessoal de cada um, e a compreensão do ponto de vista do outro, são aspetos essenciais para encontrar uma solução, que, podendo não ser a preferida, pode ser bem aceite por ambos. Nos chamados problemas sem solução (religião/clube/partido, projeto de vida pessoal, incompatibilidades várias) o caminho passa por definir se a questão é fundamental ou não para a continuação da relação (como pode ser o caso, por exemplo, quando um deseja ter filhos e o outro não) ou, se é uma questão não fundamental em que será necessário identificar esperanças, aspirações, desejos e sentimentos, negociando a ação, aceitando a diferença e concordando em discordar.

Cada membro do casal traz consigo as experiências que desde que nasceu foi aprendendo na família de origem, quadro essencial para perceber, no presente, as representações e interiorizações diferentes que cada um pode fazer sobre um mesmo acontecimento ou situação. Cada um estabeleceu com os seus pais ou cuidadores na infância um tipo de vinculação que é de importância central, não só na escolha do parceiro, como também no modo como o casal comunica e se relaciona. 

Ambos possuem uma bagagem muito pessoal e com alta carga emocional, cabe a cada um percebê-la e, até certo ponto, tentar perceber a do outro, de modo a que não se sinta “atacado”, nem se deixe “atacar”, por problemas que pertencem à vivência/experiência precoce do outro, mas ao mesmo tempo consigam alargar a sua própria experiência emocional através da experiência do outro. Talvez a forma mais simultaneamente aberta, em tom de dádiva, e envolvente, em tom de aconchego, de chegar ao parceiro, seja tentar sentir as suas experiências precoces - lá onde você não esteve e não viveu. Para tal, é necessária uma partilha mútua de vivências e sentimentos, o que, por um lado implica confiança e aceitação de vulnerabilidade, e por outro lado, possibilita o desenvolvimento pessoal, a reparação e o fortalecimento de ciclos funcionais de ligação e comunicação que contribuem para a aproximação e crescimento do casal. 

Ao longo de anos de investigação sobre casais e sobre o que funciona e não funciona nos seus relacionamentos, foram sendo encontradas algumas constantes nas relações felizes e alguns mitos que contribuem para relações infelizes. Há mitos de épocas distantes ainda presentes, embora por vezes de forma menos consciente, que continuam a causar dano; outros são mais atuais e muitas vezes divulgados como soluções, quando mais não são do que agravantes.

Alguns dos mitos mais nocivos para uma relação a dois:
o   O casamento traz a felicidade e preenche todos os meus sonhos
o   Os membros do casal não devem ter interesses ou amizades individuais
o   Uma relação extraconjugal salva o casamento ou estimula-o
o   Uma relação extraconjugal destrói um casamento 
o   Os bons maridos fazem reparações em casa e/ou as boas mulheres tratam da comida e da roupa
o   A ambição de um vem antes da carreira do outro
o   Os verdadeiros amantes conhecem-se automaticamente um ao outro e sabem o que o outro está a pensar, mesmo sem falarem
o   Os bons esposos devem satisfazer todas as necessidades do parceiro
o   A competição entre o casal acrescenta encanto ao casamento
o   O casal deve ser uma sociedade de 50%+50%
o   Os casais felizes não discutem 
o   Os casais não devem revelar assuntos pessoais a terceiros
o   Um é melhor do que o outro, ama mais, luta mais pela relação
o   Um casamento infeliz é preferível a um lar desfeito
o   Se o seu parceiro quer terminar a relação, lute por ela
o   Ter um filho melhorará o casamento

Alguns pontos comuns às relações mais satisfatórias
ü  Envolvem-se com prazer na construção da vida a dois 
ü  Não dizem Sim, quando na verdade querem dizer Não 
ü  Evitam criticar e culpabilizar o outro, mas expõem claramente o que estão a sentir 
ü  Cooperam, em vez de competir, tentando chegar a soluções satisfatórias para ambos
ü  Exprimem opiniões e deixam-se também influenciar pelo parceiro
ü  Tomam consciência das suas emoções e sentimentos e procuram compreender as do parceiro, não responsabilizando o outro, pelo que só ao próprio diz respeito
ü  Evitam que uma zanga se torne mais do que isso, voltando-se um para o outro em vez de ficarem de costas voltadas
ü  Evitam a mentira. Quando sentem necessidade de mentir, perguntam-se porquê, e resolvem. A mentira conduz à desconfiança
ü  Encorajam o outro a alcançar os seus objetivos pessoais. Potencializam o que cada um tem de melhor
ü  Criam e disfrutam momentos a dois partilhando algumas tarefas e atividades de prazer 
ü  Sabem esquecer e perdoar
ü  Reconhecem e aceitam os seus defeitos e vulnerabilidades assim como os do parceiro
ü  Valorizam os pontos fortes do parceiro 
ü  Partilham significados e piadas privadas e cultivam o sentido de humor
ü  Interessam-se pelo dia a dia e pelo trabalho do outro e trocam ideias e experiências
ü  Alimentam o afeto e a admiração, (por exemplo, trocam mensagens amorosas)

Para que ambos se sintam bem na relação é fundamental que cada um se sinta bem consigo. A forma mais inteira de poder amar e ser amado dum modo saudável e gratificante, é que cada um saiba aceitar-se, respeitar-se e amar-se, tendo consciência de si e de quem é.

Ambos terão necessidade de se sentir aceites, autorizados, e alvos de apreço, atenção e afeto; ambos necessitam de se sentir simultaneamente livres e comprometidos. No entanto, estas necessidades nem sempre estão presentes em ambos os parceiros com o mesmo nível de intensidade e podem variar ao longo do tempo, embora não necessariamente ao mesmo tempo e da mesma forma (o que para um é demais, pode ser para o outro apenas o suficiente, o que numa altura é essencial, noutras é dispensável). É necessário olhar para as necessidades que cada um sente em cada momento, saber comunicá-las e, quando possível, conciliá-las, ou, aceitar – sem ressentimento - prescindir; quando tal não é possível, deixar que o outro as satisfaça de outra forma; afinal, amar é isso mesmo, é aceitar a diferença e deixar ser.

Cristina Marreiros da Cunha - Psicóloga e Psicoterapeuta

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Às vezes dá consigo a fazer estas perguntas?

O que significa ser normal? O que significa estar bem?


Se tentarmos definir “normalidade” pela positiva, isto é, pelo que poderá ser, e não pelo que não é, ocorre-nos logo que o conceito de normalidade deverá ser transcultural, ou seja não poderá estar vinculado a determinado padrão cultural, deverá incluir aspetos estruturais, que dizem respeito a características muitas vezes herdadas (traços) e processuais, isto é, características mais associadas ao desenvolvimento, (fases, etapas) e à educação e ao meio ambiente, aos diferentes estímulos e interações, o que nos motiva, como nos vamos descobrindo, construindo, posicionando (dimensões), deve também ser uma definição dinâmica (ir sendo com..., e transformando-se a partir de..., num processo de transferência,), dialética (em movimento constante com avanços e recuos, equilíbrios e desequilíbrios). Finalmente, o conceito de “normalidade” deverá incluir o que o próprio sente, reflete e observa sobre si e os outros, e o que os outros observam, sentem e refletem sobre ele.

A desordem não está no desequilíbrio ocasional, que faz parte do processo dinâmico dialético que é a vida, mas apenas em traços extremos, inadaptativos, inflexíveis e/ou causando sofrimento, que impedem o reencontro com o equilíbrio.

Talvez possamos dizer que a noção de normalidade, enquanto torre vertical, deve ser entendida, como mero constructo teórico, utópico, uma vez que, as várias funções (ou necessidades / identidade / níveis / traços - dependendo dos autores -) não necessitam de um equilíbrio vertical (tal como a Torre de Pisa), nem estático, mas tão só de um equilíbrio, que mantenha interceções (pontos de equilíbrio) de vários (fatores, funções, dimensões etc.,)  ou seja sem desregulações ou disrupções do processo de desenvolvimento individual e inter-relacional.

A normalidade estará então na possibilidade e capacidade de (re)encontrar (ir encontrando) um ponto (sucessivos pontos) de equilíbrio gerador(es) de bem-estar, capaz(es) de satisfazer as necessidades do próprio concomitantemente com as necessidades do meio ao longo das várias fases da vida.


Todos nós temos a riqueza e a raridade da Torre de Pisa, variamos no grau de inclinação, no lado, na exposição solar, na ornamentação, no estilo, etc. Esse facto, dá-nos a nossa individualidade. O nosso bem-estar reside na capacidade de convivermos com essa individualidade de forma saudável, mais do que na tentativa desesperada de “sermos direitos”, de “sermos como os outros”, ou de “sermos como um (qualquer utópico) modelo”. O nosso bem-estar reside também na capacidade de evitarmos o desmoronamento, reconhecendo os exageros prolongados e a rigidez, que poderão estar a impedir o reequilíbrio.

Se você tem um sentido para a sua vida e se sente ligado a pessoas, causas e objetivos, se você está em contacto com as suas emoções, ouve-as, aceita-as e decide o que fazer com elas, se é flexível, faz escolhas livres e responsáveis, sabe atender às suas necessidades, assim como às necessidades dos que lhe são próximos, se trata os outros com compreensão e respeito, se gosta de quem é, e o seu sentir, pensar e agir estão em relativa coerência, se aproveita as experiências da vida para crescer e criar um espaço de bem-estar à sua volta, ótimo, você está em equilíbrio. Se algumas destas áreas não estão como você gostaria, e tem dificuldade em perceber o quê, ou em saber o que fazer para melhorar, e, sobretudo, se a situação se arrasta há já algum tempo, talvez esteja na altura de pedir ajuda profissional para reencontrar o seu equilíbrio e bem-estar.

Saber viver connosco e com os outros, eis a dança mais desafiante e fantástica da vida.

Cristina Marreiros da Cunha - Psicóloga e Psicoterapeuta

 
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No mundo social em que nos enquadramos e vivemos relaciona-mo-nos, cuidamos, partilhamos, conquistamos, aprendemos e ganhamos. Tudo faz sentido quando vivemos em relação com o outro. No entanto, a relação não é algo que se adquire de um dia para o outro, é antes um crescimento, feito entre descobertas e em conjunto, onde se dá lugar àquilo que é bom, mas também onde há lugar para se viver aquilo que é mau. Nestas trocas existem discórdias, mal-entendidos, falsas ideias, pensamentos errados, que nos levam muitas vezes a adotar posturas erradas na relação com o outro.

Falemos do perdão. O que é o perdão? Qual o seu verdadeiro significado?

Mais do que uma simples palavra, o perdão é algo que se sente, que se experiência emocionalmente no nosso mundo interno e que acaba por ter reflexo nos nossos comportamentos exteriores.

Ao contrário do que se possa pensar, o ato de perdoar não pressupõe que se esqueça, até porque significaria que estaria disponível para que a mesma situação voltasse a acontecer, mas antes pressupõe-se que se atinja um estado de bem-estar em relação à situação de conflito. É nesta altura, quando se atinge um sentimento de bem-estar, ou seja quando já não há raiva, zanga, tristeza quando se aborda ou pensa sobre a situação de conflito, que o sujeito terá atingido o verdadeiro patamar do perdão.

O perdão pode ser construído a partir da compreensão da atitude do outro que nos tenha magoado, e perceber que os sentimentos de raiva, zanga, acabam por ser nocivos a longo termo para o próprio.

A responsabilidade da mágoa por vezes é de quem magoa, porque o faz de uma forma deliberada e intencional, mas outras vezes também é responsabilidade de quem é magoado. A responsabilidade recai sobre quem é magoado quando este não dá a conhecer ao outro o que realmente o pode magoar, acreditando-se muitas vezes que o outro tem que possuir o dom de adivinhar aquilo que o magoa (sendo este um dos erros mais comuns que leva a desentendimentos).

É importante perdoar, mais que não seja para se libertar de sentimentos destrutivos e que assumem influência no seu dia-a-dia.

Luís Carlos Batista - Psicólogo

 
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Todos nós nascemos, vivemos e morremos em relação com os outros. Ainda no ventre materno já nos estamos a relacionar com a progenitora; aquando do nascimento continuamos esta relação com a progenitora, ou noutras situações, desenvolvemos relações com aqueles que serão os nossos cuidadores, sendo estas primeiras relações de extrema importância para o desenvolvimento de cada sujeito. Veja-se por exemplo, em 1979, René Spitz, um psicanalista austríaco, verificou num dos seus estudos, que bebés que tinham todas as necessidades básicas de alimentação, cuidado e higiene satisfeitas, acabavam por morrer como consequência de uma ausência de relação. Isto é, todos estes bebés estavam hospitalizados, mas não podiam ter a companhia permanente dos seus cuidadores, passando a maior parte do tempo sozinhos, sendo apenas satisfeitas as necessidades anteriormente descritas. Spitz ao perceber o que se estava a passar, decidiu falar com a administração do hospital para que os bebés tivessem o acompanhamento dos seus cuidadores, que resultou numa grande redução da taxa de mortalidade nos bebés.

Podemos portanto depreender que o facto de nos relacionarmos é de extrema importância. É a partir das relações que cada sujeito adquire a sua própria identidade e individualidade, é nelas que se descobre e explora, e é a partir das relações que o sujeito desenvolve as ferramentas necessárias para explorar a vida.

Quando pensamos em relações devemos ter em conta que estas não devem assumir como função a prisão, a falta de liberdade, a retirada de autonomia, mas pelo contrário, dar a possibilidade ao sujeito de se desenvolver, conhecer, enfrentar os seus medos com o outro.

Se por um lado as relações nos permitem saúde, por outro, também podem-nos levar a problemas psicológicos. Claro que neste último cenário se inscrevem muitas variáveis (estilos de personalidade, temperamento, ideias preconcebidas, necessidades pessoais, entre tantas outras), mas quando não se tem uma boa relação, com desenvolvimento pessoal de ambos os lados, as condições para o surgimento de problemas estão criadas.

As relações devem ser percecionadas como uma co construção, onde não existe anulação de nenhuma das partes em detrimento da outra, onde existe um equilíbrio entre aquilo que se dá e o que se recebe, onde deve existir um ajuste quantos aos objetivos de ambos os participantes sobre a relação, e na qual se devem criar as condições para uma comunicação aberta, sincera e confiante, com respeito e valorização pelo outro.

Luís Carlos Batista - Psicólogo

 
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Com o fim do período de férias de verão, muitos são aqueles que começam a sentirem-se deprimidos com a ideia do regresso ao trabalho, à rotina diária. É como um voltar à realidade, às preocupações e aos problemas, que são aspetos que costumam ser postos de lado durante a época das férias. Uma das formas de aliviar esta tensão será o voltar à rotina de uma forma progressiva, sendo que ainda no período de férias devem-se retomar aos poucos as atividades diárias até ao regresso ao trabalho. Também é importante, após retomar a rotina laboral, conseguir-se num período do dia, um momento de descontração para si, onde possa realizar algo que lhe dê prazer e que não seja conotado como uma obrigação (por exemplo: ouvir música, passear, ir ao cinema, ler, entre tantos outros).

Luís Carlos Batista - Psicólogo

 
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Nos dias que correm muita é a informação disponível sobre o que é um acompanhamento psicológico, no entanto, ainda é frequente chegarem ao consultório pessoas com a ideia de que este funciona um pouco como a medicina. Ou seja, há pessoas que têm a ideia de que a psicologia clínica, à semelhança da medicina, tem um tratamento específico para cada problemática psicológica. Mas esta é uma ideia errada e redutora.

Qualquer acompanhamento psicológico, tem que ter em atenção a pessoa que procura o serviço, as suas características pessoais e a sua dinâmica psicológica, sendo que o trabalho se desenvolverá a partir das necessidades que a pessoa apresenta.

Este processo não tem um tempo de duração pré-estabelecido, estando o mesmo dependente da evolução que a pessoa vai fazendo ao longo do processo.

Todo o processo psicoterapêutico baseia-se na relação que se estabelece entre o sujeito e o profissional. Esta deve ser uma relação na qual o profissional revela disponibilidade interna para as coisas do sujeito, atitudes empática, de compreensão e de contenção, sem julgamentos e/ ou preconceitos. O psicólogo deve aceitar o sujeito como pessoa individual e única que é.

É a partir desta atitude do psicólogo que a pessoa se irá sentir confortável para partilhar o seu mundo interno, de uma forma autêntica e que lhe permita o tomar de consciência de algumas vivências internas, levando a mesma a ganhar insights e a poder pensar-se a si mesma sem reservas.

Ter tratamentos standards para cada problemática iria levar a que se esquecesse o sujeito como pessoa única e singular.

Luis Carlos Batista - Psicólogo

 
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Tantas vezes nos sentimos ansiosos por situações que nós próprios consideramos como ridículas, outras tantas até conseguimos perceber o porquê de tanta ansiedade. Mas e afinal, porque surge? Ao contrário daquilo que à primeira vista podemos pensar, a ansiedade tem o seu lado positivo e adaptativo, pois ela prepara-nos para a ação. Pensemos numa situação de avaliação, durante a qual temos que mostrar uma boa performance – ter ansiedade em dose certa nesta situação é benéfico, pois coloca-nos alerta, despertos e com a atenção necessária para a realização da tarefa. Por outro lado, pode tornar-se prejudicial quando surge em níveis elevados, e nestes casos, em vez de nos preparar para a ação acaba por ter o efeito contrário, de bloqueio.

A ansiedade, quando em níveis elevados, é despoletada por um medo exagerado face a determinada situação inócua. Esta provoca sensação de mal-estar, ritmo cardíaco acelerado, sudorese, ruborização. Em momentos extremos, os níveis de ansiedade estão tão altos que acabam mesmo por desencadear ataques de pânico, sendo estes caracterizados pelo surgimento de taquicardia, dor no peito, formigueiro generalizado, sudorese. Há quem confunda esta sintomatologia de ansiedade com problemas cardíacos, como tal é necessário uma boa avaliação.

Entretanto, ainda que a ansiedade possa ser despoletada em determinadas situações, esta também pode fazer-se sentir diariamente, a chamada ansiedade generalizada. Nestas condições, o sujeito não identifica nenhuma situação específica como geradora de ansiedade, acabando por se sentir ansioso durante o dia/ noite, manifestando-se através de um ritmo cardíaco acelerado, preocupação constante, insónias, falta ou aumento do apetite, dificuldade de concentração. 

A ansiedade é considerada portanto um quadro clínico que perturba o normal funcionamento do sujeito no seu dia-a-dia, estando a eficácia da psicologia clínica para o seu tratamento estudada e comprovada.  

Luis Carlos Batista - Psicólogo

 
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Todas as emoções nos são úteis e devem ser vividas.

Se há emoções com que ninguém parece ter preocupações, como é o caso da alegria, há outras que são olhadas com muita desconfiança, como é o caso da tristeza ou da zanga. À tristeza, nalgumas situações (morte de alguém próximo, divórcio), é concedida algum tempo para que seja vivida, tentando-se depois que ela desapareça rapidamente, (“tristezas não pagam dívidas”) pois muitos de nós não nos concedemos, nem a nós nem aos outros, o direito de estar triste, nem queremos viver a vulnerabilidade que representa “estar triste” porque “temos que ser fortes” e... produtivos. Nesta armadilha caiem muitos dos que depois acabam verdadeiramente deprimidos, perdendo o sentido da sua própria vida.

Quanto à zanga, essa é vista ainda com piores olhos, como se fosse uma emoção maldita, ora ela afinal não é nem mais nem menos que as outras emoções, ou seja perfeitamente natural e saudável, acompanhada por transformações psicológicas e fisiológicas com objetivos específicos. Se a tristeza nos leva a chorar as perdas e o medo nos leva a agir no sentido de nos protegermos, a zanga dá-nos a informação de que há limites a ser ultrapassados e que teremos de tomar providências no sentido de repor justiça, é o que nos permite defender quando nos sentimos atacados, ou seja, tal como as outras emoções, tem uma tendência de resposta natural, adaptativa e essencial à sobrevivência.

Quem não tem consciência das suas emoções ou as intelectualiza, não as pode utilizar como guia. Se ignorarmos a informação que as emoções nos dão, perdemos o contacto com uma parte de nós. Dado que as emoções têm o seu papel, se as ignoramos, ou se fingimos que não existem, elas acabam por se mascarar e aparecer com mais intensidade ou doutra forma, vestindo outras roupagens, gerando uma confusão de sentimentos e pensamentos desadaptativos, que acaba por nos deixar perdidos e muitas vezes descontrolados. Se estamos zangados com alguém, mas não tomamos consciência disso, ficamos impedidos de simbolizar, e podemos agir sem pensar e de forma violenta, ou, envergonhar-nos e reprimir o que sentimos.

Porque se fala tanto de controlo da Zanga?

Porque a zanga quando não é ouvida e/ou consciencializada pode crescer e tornar-se violenta, ela pode ir, desde uma leve irritação até à fúria e pode tomar conta de nós a ponto de ficarmos seus reféns e agirmos a partir dela e não a partir do que ela nos comunica e das decisões que tomamos, conscientes das consequências.

Porque a tristeza quando não é ouvida sistematicamente nem atendida no seu direito de vivência, pode surgir vestida de zanga e transformar-se em revolta e em violência.

Porque o medo, quando não é autorizado a existir pode dar o braço à vergonha, e aparecerem mascarados de zanga, (como se o medo fosse para os fracos e a zanga para os fortes).

Porque a própria zanga, quando é muitas vezes maltratada e calada, também ela se pode esconder por trás duma aparente tristeza e acabar em depressão.

O hipercontrolo, a negação ou o constante impedimento de expressão da zanga, pode também levar a comportamentos do tipo passivo-agressivo (evitando o confronto, mas atacando os outros de forma pacífica e sub-reptícia, sem que eles se apercebam do motivo - por exemplo dizendo sempre que sim, mas nunca fazendo) este evitamento constante da zanga pode também transformar-se em cinismo, ressentimento, amargura e hostilidade, trazendo graves problemas ao nível do relacionamento interpessoal e do bem-estar psicológico

Que fazer com a minha zanga? Ouvi-la perceber se é zanga, ou outra emoção mascarada de zanga. Se percebermos que ela está mascarada teremos que ter a coragem de a desmascarar e autorizar que as emoções que atrás dela se esconderam, apareçam e sejam vividas.  

Se for só zanga, olhar para ela de frente, escutá-la, perceber donde vem, o que nos quer transmitir. Assim que a escutarmos verdadeiramente será mais fácil regulá-la e agir com maior liberdade, podendo escolher o rumo da nossa acção, sem estar sob o seu controlo, e, pelo contrário, controlando-a, deixando-a fluir de acordo com a nossa vontade. Ser assertivo, expressando a nossa opinião, vontade, desejo é meio caminho para não termos de ser agressivos. Acalmarmos do ponto de vista fisiológico, respirando fundo, concentrando-nos em nós, e não no outro ou na situação que despoletou a zanga, ajuda a que o coração recupere um ritmo menos agitado e ajuda-nos a recuperar o controlo.

Como deixo de ficar zangado? Primeiro, ficando, escutando e sentindo, depois percebendo porque estou, e finalmente agindo de forma responsável e livre, não a partir da zanga, mas do que descobrimos através dela. Pode haver ganhos, perdas, responsabilizações, perdão ou não perdão, mas terá de haver aceitação da situação para que ela deixe de ser perturbadora. Podemos então deixar partir a zanga pois guardámos a informação que ela nos trouxe e agimos de acordo com a nossa escolha.

Cristina Marreiros da Cunha - Psicóloga e Psicoterapeuta

 
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A Alienação Parental é uma problemática ainda um pouco desconhecida pela nossa sociedade em geral, mas que aos poucos tem ganho destaque.

Esta surge a partir de um forte conflito parental, no qual um dos progenitores adota comportamentos de desvalorização, desacreditação, difamação em relação ao outro progenitor, exercendo desta forma uma manipulação sobre a criança, uma lavagem cerebral acerca do outro progenitor.

As principais vítimas da problemática da Alienação Parental acabam por ser as crianças que, não tendo quaisquer responsabilidades sobre o conflito parental, acabam por se verem envolvidas num jogo perverso, onde um dos progenitores deturpa a imagem do outro progenitor, na espectativa de que a criança o deixe de amar em detrimento de um amor exclusivo sobre o progenitor alienador. Nestas situações, as crianças acabam por ser usadas como meio de atingir um dos progenitores.

Uma avaliação não cuidada destas situações pode levar a erros gravíssimos. Como por exemplo, aquando de uma avaliação psicológica, o técnico se só tiver em conta a visão do progenitor alienador sem adotar uma atitude crítica face ao que lhe é relatado, poderá resultar em relatórios altamente contaminados que muitas vezes vão parar a tribunal e que comprometem a relação entre a criança e o outro progenitor no futuro; a própria escola quando ouve a versão do progenitor alienador e não adota nenhuma postura crítica acaba por restringir muitas vezes o acesso do outro progenitor à vida escolar da criança e, para além de que a escola poderia constituir-se como mais um facilitador da relação entre a criança alienada e progenitor não alienador.

Os progenitores alienadores adotam geralmente discursos que chocam os outros, na tentativa de conseguirem o seu apoio, como por exemplo: queixas de agressões físicas, violações, de que não asseguram as necessidades básicas (alimentação, sono, higiene…) das crianças. Já às crianças, os progenitores alienadores agarram em situações normais de convivência entre as crianças e os outros progenitores para as manipularem, como por exemplo: é dito à criança que se o outro progenitor teve cuidado com a sua higiene íntima foi porque que este lhe fez mal (situação de molestar). Estes discursos irão provocar na criança uma enorme confusão, pois se por um lado não sentiram que foram alvo de qualquer atitude má do progenitor não alienador, por outro temem fazer frente ao progenitor alienador com medo de que possam perder o amor deste.

A problemática da Alienação Parental carece ainda de alguma investigação que explique e que nos permita identifica-la facilmente. No entanto, perante uma situação de conflito em casos de separação/ divórcio deve-se sempre adotar uma atitude crítica face às situações expostas, numa tentativa de se perceber em primeiro lugar o que realmente se passa, e por outro lado, poderem-se adotar as medidas necessárias para que se possam proteger as crianças destas situações.

Luís Carlos Batista - Psicólogo

 
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Nos dias que correm parece não se saber mais a diferença entre o que é estar deprimido e o que é estar triste. Parece haver cada vez mais uma incapacidade, uma intolerância social à tristeza, sendo que sempre que alguém está triste recorre ao médico para que lhe prescreva antidepressivos.

Mas afinal, o que é estar triste? Estar triste, é antes de mais uma condição natural a todos nós humanos bem como aos animais, digamos que é emoção básica que todos nós experimentamos. Esta condição pode resultar de várias situações, como a morte de alguém que nos é querido, ruturas de relação, quando não se consegue atingir determinado objetivo para o qual nos tínhamos proposto, quando somos mal tratados, quando não somos reconhecidos pelo nosso valor pessoal e profissional, quando nos alteram as férias e já tínhamos um destino marcado… Inúmeras situações poderiam ser aqui enunciadas. Devemos portanto ter consciência de que ficar-se triste é algo natural, que surge derivada de uma situação específica e que nada tem a ver com doença mental.

Então e a depressão? O que é estar deprimido? A depressão é uma condição patológica, que se distingue da tristeza pelo facto de a pessoa não conseguir nomear uma razão que explique o atual sofrimento. É característico de quem está deprimido não conseguir sentir mais prazer em atividades que anteriormente considerava como prazerosas, ocorrer uma diminuição do desejo sexual, haver uma diminuição ou um aumento acentuado do apetite, sem energia para assumir as responsabilidades diárias, dificuldades em dormir durante a noite, um desejo enorme de passar os dias deitado sem qualquer luz. Estes são alguns dos comportamentos típicos de quem está deprimido, e os quais perduram no tempo. Nestas situações, será necessário haver um acompanhamento psicológico e/ou o recurso a antidepressivos. No entanto, os estudos científicos sobre a depressão apontam o acompanhamento psicológico como o meio mais eficaz para o tratamento da mesma.

Luís Carlos Batista - Psicólogo