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No mundo social em que nos enquadramos e vivemos relaciona-mo-nos, cuidamos, partilhamos, conquistamos, aprendemos e ganhamos. Tudo faz sentido quando vivemos em relação com o outro. No entanto, a relação não é algo que se adquire de um dia para o outro, é antes um crescimento, feito entre descobertas e em conjunto, onde se dá lugar àquilo que é bom, mas também onde há lugar para se viver aquilo que é mau. Nestas trocas existem discórdias, mal-entendidos, falsas ideias, pensamentos errados, que nos levam muitas vezes a adotar posturas erradas na relação com o outro.

Falemos do perdão. O que é o perdão? Qual o seu verdadeiro significado?

Mais do que uma simples palavra, o perdão é algo que se sente, que se experiência emocionalmente no nosso mundo interno e que acaba por ter reflexo nos nossos comportamentos exteriores.

Ao contrário do que se possa pensar, o ato de perdoar não pressupõe que se esqueça, até porque significaria que estaria disponível para que a mesma situação voltasse a acontecer, mas antes pressupõe-se que se atinja um estado de bem-estar em relação à situação de conflito. É nesta altura, quando se atinge um sentimento de bem-estar, ou seja quando já não há raiva, zanga, tristeza quando se aborda ou pensa sobre a situação de conflito, que o sujeito terá atingido o verdadeiro patamar do perdão.

O perdão pode ser construído a partir da compreensão da atitude do outro que nos tenha magoado, e perceber que os sentimentos de raiva, zanga, acabam por ser nocivos a longo termo para o próprio.

A responsabilidade da mágoa por vezes é de quem magoa, porque o faz de uma forma deliberada e intencional, mas outras vezes também é responsabilidade de quem é magoado. A responsabilidade recai sobre quem é magoado quando este não dá a conhecer ao outro o que realmente o pode magoar, acreditando-se muitas vezes que o outro tem que possuir o dom de adivinhar aquilo que o magoa (sendo este um dos erros mais comuns que leva a desentendimentos).

É importante perdoar, mais que não seja para se libertar de sentimentos destrutivos e que assumem influência no seu dia-a-dia.

Luís Carlos Batista - Psicólogo

 
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Todos nós nascemos, vivemos e morremos em relação com os outros. Ainda no ventre materno já nos estamos a relacionar com a progenitora; aquando do nascimento continuamos esta relação com a progenitora, ou noutras situações, desenvolvemos relações com aqueles que serão os nossos cuidadores, sendo estas primeiras relações de extrema importância para o desenvolvimento de cada sujeito. Veja-se por exemplo, em 1979, René Spitz, um psicanalista austríaco, verificou num dos seus estudos, que bebés que tinham todas as necessidades básicas de alimentação, cuidado e higiene satisfeitas, acabavam por morrer como consequência de uma ausência de relação. Isto é, todos estes bebés estavam hospitalizados, mas não podiam ter a companhia permanente dos seus cuidadores, passando a maior parte do tempo sozinhos, sendo apenas satisfeitas as necessidades anteriormente descritas. Spitz ao perceber o que se estava a passar, decidiu falar com a administração do hospital para que os bebés tivessem o acompanhamento dos seus cuidadores, que resultou numa grande redução da taxa de mortalidade nos bebés.

Podemos portanto depreender que o facto de nos relacionarmos é de extrema importância. É a partir das relações que cada sujeito adquire a sua própria identidade e individualidade, é nelas que se descobre e explora, e é a partir das relações que o sujeito desenvolve as ferramentas necessárias para explorar a vida.

Quando pensamos em relações devemos ter em conta que estas não devem assumir como função a prisão, a falta de liberdade, a retirada de autonomia, mas pelo contrário, dar a possibilidade ao sujeito de se desenvolver, conhecer, enfrentar os seus medos com o outro.

Se por um lado as relações nos permitem saúde, por outro, também podem-nos levar a problemas psicológicos. Claro que neste último cenário se inscrevem muitas variáveis (estilos de personalidade, temperamento, ideias preconcebidas, necessidades pessoais, entre tantas outras), mas quando não se tem uma boa relação, com desenvolvimento pessoal de ambos os lados, as condições para o surgimento de problemas estão criadas.

As relações devem ser percecionadas como uma co construção, onde não existe anulação de nenhuma das partes em detrimento da outra, onde existe um equilíbrio entre aquilo que se dá e o que se recebe, onde deve existir um ajuste quantos aos objetivos de ambos os participantes sobre a relação, e na qual se devem criar as condições para uma comunicação aberta, sincera e confiante, com respeito e valorização pelo outro.

Luís Carlos Batista - Psicólogo