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Nos dias que correm muita é a informação disponível sobre o que é um acompanhamento psicológico, no entanto, ainda é frequente chegarem ao consultório pessoas com a ideia de que este funciona um pouco como a medicina. Ou seja, há pessoas que têm a ideia de que a psicologia clínica, à semelhança da medicina, tem um tratamento específico para cada problemática psicológica. Mas esta é uma ideia errada e redutora.

Qualquer acompanhamento psicológico, tem que ter em atenção a pessoa que procura o serviço, as suas características pessoais e a sua dinâmica psicológica, sendo que o trabalho se desenvolverá a partir das necessidades que a pessoa apresenta.

Este processo não tem um tempo de duração pré-estabelecido, estando o mesmo dependente da evolução que a pessoa vai fazendo ao longo do processo.

Todo o processo psicoterapêutico baseia-se na relação que se estabelece entre o sujeito e o profissional. Esta deve ser uma relação na qual o profissional revela disponibilidade interna para as coisas do sujeito, atitudes empática, de compreensão e de contenção, sem julgamentos e/ ou preconceitos. O psicólogo deve aceitar o sujeito como pessoa individual e única que é.

É a partir desta atitude do psicólogo que a pessoa se irá sentir confortável para partilhar o seu mundo interno, de uma forma autêntica e que lhe permita o tomar de consciência de algumas vivências internas, levando a mesma a ganhar insights e a poder pensar-se a si mesma sem reservas.

Ter tratamentos standards para cada problemática iria levar a que se esquecesse o sujeito como pessoa única e singular.

Luis Carlos Batista - Psicólogo

 
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Tantas vezes nos sentimos ansiosos por situações que nós próprios consideramos como ridículas, outras tantas até conseguimos perceber o porquê de tanta ansiedade. Mas e afinal, porque surge? Ao contrário daquilo que à primeira vista podemos pensar, a ansiedade tem o seu lado positivo e adaptativo, pois ela prepara-nos para a ação. Pensemos numa situação de avaliação, durante a qual temos que mostrar uma boa performance – ter ansiedade em dose certa nesta situação é benéfico, pois coloca-nos alerta, despertos e com a atenção necessária para a realização da tarefa. Por outro lado, pode tornar-se prejudicial quando surge em níveis elevados, e nestes casos, em vez de nos preparar para a ação acaba por ter o efeito contrário, de bloqueio.

A ansiedade, quando em níveis elevados, é despoletada por um medo exagerado face a determinada situação inócua. Esta provoca sensação de mal-estar, ritmo cardíaco acelerado, sudorese, ruborização. Em momentos extremos, os níveis de ansiedade estão tão altos que acabam mesmo por desencadear ataques de pânico, sendo estes caracterizados pelo surgimento de taquicardia, dor no peito, formigueiro generalizado, sudorese. Há quem confunda esta sintomatologia de ansiedade com problemas cardíacos, como tal é necessário uma boa avaliação.

Entretanto, ainda que a ansiedade possa ser despoletada em determinadas situações, esta também pode fazer-se sentir diariamente, a chamada ansiedade generalizada. Nestas condições, o sujeito não identifica nenhuma situação específica como geradora de ansiedade, acabando por se sentir ansioso durante o dia/ noite, manifestando-se através de um ritmo cardíaco acelerado, preocupação constante, insónias, falta ou aumento do apetite, dificuldade de concentração. 

A ansiedade é considerada portanto um quadro clínico que perturba o normal funcionamento do sujeito no seu dia-a-dia, estando a eficácia da psicologia clínica para o seu tratamento estudada e comprovada.  

Luis Carlos Batista - Psicólogo

 
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Todas as emoções nos são úteis e devem ser vividas.

Se há emoções com que ninguém parece ter preocupações, como é o caso da alegria, há outras que são olhadas com muita desconfiança, como é o caso da tristeza ou da zanga. À tristeza, nalgumas situações (morte de alguém próximo, divórcio), é concedida algum tempo para que seja vivida, tentando-se depois que ela desapareça rapidamente, (“tristezas não pagam dívidas”) pois muitos de nós não nos concedemos, nem a nós nem aos outros, o direito de estar triste, nem queremos viver a vulnerabilidade que representa “estar triste” porque “temos que ser fortes” e... produtivos. Nesta armadilha caiem muitos dos que depois acabam verdadeiramente deprimidos, perdendo o sentido da sua própria vida.

Quanto à zanga, essa é vista ainda com piores olhos, como se fosse uma emoção maldita, ora ela afinal não é nem mais nem menos que as outras emoções, ou seja perfeitamente natural e saudável, acompanhada por transformações psicológicas e fisiológicas com objetivos específicos. Se a tristeza nos leva a chorar as perdas e o medo nos leva a agir no sentido de nos protegermos, a zanga dá-nos a informação de que há limites a ser ultrapassados e que teremos de tomar providências no sentido de repor justiça, é o que nos permite defender quando nos sentimos atacados, ou seja, tal como as outras emoções, tem uma tendência de resposta natural, adaptativa e essencial à sobrevivência.

Quem não tem consciência das suas emoções ou as intelectualiza, não as pode utilizar como guia. Se ignorarmos a informação que as emoções nos dão, perdemos o contacto com uma parte de nós. Dado que as emoções têm o seu papel, se as ignoramos, ou se fingimos que não existem, elas acabam por se mascarar e aparecer com mais intensidade ou doutra forma, vestindo outras roupagens, gerando uma confusão de sentimentos e pensamentos desadaptativos, que acaba por nos deixar perdidos e muitas vezes descontrolados. Se estamos zangados com alguém, mas não tomamos consciência disso, ficamos impedidos de simbolizar, e podemos agir sem pensar e de forma violenta, ou, envergonhar-nos e reprimir o que sentimos.

Porque se fala tanto de controlo da Zanga?

Porque a zanga quando não é ouvida e/ou consciencializada pode crescer e tornar-se violenta, ela pode ir, desde uma leve irritação até à fúria e pode tomar conta de nós a ponto de ficarmos seus reféns e agirmos a partir dela e não a partir do que ela nos comunica e das decisões que tomamos, conscientes das consequências.

Porque a tristeza quando não é ouvida sistematicamente nem atendida no seu direito de vivência, pode surgir vestida de zanga e transformar-se em revolta e em violência.

Porque o medo, quando não é autorizado a existir pode dar o braço à vergonha, e aparecerem mascarados de zanga, (como se o medo fosse para os fracos e a zanga para os fortes).

Porque a própria zanga, quando é muitas vezes maltratada e calada, também ela se pode esconder por trás duma aparente tristeza e acabar em depressão.

O hipercontrolo, a negação ou o constante impedimento de expressão da zanga, pode também levar a comportamentos do tipo passivo-agressivo (evitando o confronto, mas atacando os outros de forma pacífica e sub-reptícia, sem que eles se apercebam do motivo - por exemplo dizendo sempre que sim, mas nunca fazendo) este evitamento constante da zanga pode também transformar-se em cinismo, ressentimento, amargura e hostilidade, trazendo graves problemas ao nível do relacionamento interpessoal e do bem-estar psicológico

Que fazer com a minha zanga? Ouvi-la perceber se é zanga, ou outra emoção mascarada de zanga. Se percebermos que ela está mascarada teremos que ter a coragem de a desmascarar e autorizar que as emoções que atrás dela se esconderam, apareçam e sejam vividas.  

Se for só zanga, olhar para ela de frente, escutá-la, perceber donde vem, o que nos quer transmitir. Assim que a escutarmos verdadeiramente será mais fácil regulá-la e agir com maior liberdade, podendo escolher o rumo da nossa acção, sem estar sob o seu controlo, e, pelo contrário, controlando-a, deixando-a fluir de acordo com a nossa vontade. Ser assertivo, expressando a nossa opinião, vontade, desejo é meio caminho para não termos de ser agressivos. Acalmarmos do ponto de vista fisiológico, respirando fundo, concentrando-nos em nós, e não no outro ou na situação que despoletou a zanga, ajuda a que o coração recupere um ritmo menos agitado e ajuda-nos a recuperar o controlo.

Como deixo de ficar zangado? Primeiro, ficando, escutando e sentindo, depois percebendo porque estou, e finalmente agindo de forma responsável e livre, não a partir da zanga, mas do que descobrimos através dela. Pode haver ganhos, perdas, responsabilizações, perdão ou não perdão, mas terá de haver aceitação da situação para que ela deixe de ser perturbadora. Podemos então deixar partir a zanga pois guardámos a informação que ela nos trouxe e agimos de acordo com a nossa escolha.

Cristina Marreiros da Cunha - Psicóloga e Psicoterapeuta

 
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A Alienação Parental é uma problemática ainda um pouco desconhecida pela nossa sociedade em geral, mas que aos poucos tem ganho destaque.

Esta surge a partir de um forte conflito parental, no qual um dos progenitores adota comportamentos de desvalorização, desacreditação, difamação em relação ao outro progenitor, exercendo desta forma uma manipulação sobre a criança, uma lavagem cerebral acerca do outro progenitor.

As principais vítimas da problemática da Alienação Parental acabam por ser as crianças que, não tendo quaisquer responsabilidades sobre o conflito parental, acabam por se verem envolvidas num jogo perverso, onde um dos progenitores deturpa a imagem do outro progenitor, na espectativa de que a criança o deixe de amar em detrimento de um amor exclusivo sobre o progenitor alienador. Nestas situações, as crianças acabam por ser usadas como meio de atingir um dos progenitores.

Uma avaliação não cuidada destas situações pode levar a erros gravíssimos. Como por exemplo, aquando de uma avaliação psicológica, o técnico se só tiver em conta a visão do progenitor alienador sem adotar uma atitude crítica face ao que lhe é relatado, poderá resultar em relatórios altamente contaminados que muitas vezes vão parar a tribunal e que comprometem a relação entre a criança e o outro progenitor no futuro; a própria escola quando ouve a versão do progenitor alienador e não adota nenhuma postura crítica acaba por restringir muitas vezes o acesso do outro progenitor à vida escolar da criança e, para além de que a escola poderia constituir-se como mais um facilitador da relação entre a criança alienada e progenitor não alienador.

Os progenitores alienadores adotam geralmente discursos que chocam os outros, na tentativa de conseguirem o seu apoio, como por exemplo: queixas de agressões físicas, violações, de que não asseguram as necessidades básicas (alimentação, sono, higiene…) das crianças. Já às crianças, os progenitores alienadores agarram em situações normais de convivência entre as crianças e os outros progenitores para as manipularem, como por exemplo: é dito à criança que se o outro progenitor teve cuidado com a sua higiene íntima foi porque que este lhe fez mal (situação de molestar). Estes discursos irão provocar na criança uma enorme confusão, pois se por um lado não sentiram que foram alvo de qualquer atitude má do progenitor não alienador, por outro temem fazer frente ao progenitor alienador com medo de que possam perder o amor deste.

A problemática da Alienação Parental carece ainda de alguma investigação que explique e que nos permita identifica-la facilmente. No entanto, perante uma situação de conflito em casos de separação/ divórcio deve-se sempre adotar uma atitude crítica face às situações expostas, numa tentativa de se perceber em primeiro lugar o que realmente se passa, e por outro lado, poderem-se adotar as medidas necessárias para que se possam proteger as crianças destas situações.

Luís Carlos Batista - Psicólogo

 
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Nos dias que correm parece não se saber mais a diferença entre o que é estar deprimido e o que é estar triste. Parece haver cada vez mais uma incapacidade, uma intolerância social à tristeza, sendo que sempre que alguém está triste recorre ao médico para que lhe prescreva antidepressivos.

Mas afinal, o que é estar triste? Estar triste, é antes de mais uma condição natural a todos nós humanos bem como aos animais, digamos que é emoção básica que todos nós experimentamos. Esta condição pode resultar de várias situações, como a morte de alguém que nos é querido, ruturas de relação, quando não se consegue atingir determinado objetivo para o qual nos tínhamos proposto, quando somos mal tratados, quando não somos reconhecidos pelo nosso valor pessoal e profissional, quando nos alteram as férias e já tínhamos um destino marcado… Inúmeras situações poderiam ser aqui enunciadas. Devemos portanto ter consciência de que ficar-se triste é algo natural, que surge derivada de uma situação específica e que nada tem a ver com doença mental.

Então e a depressão? O que é estar deprimido? A depressão é uma condição patológica, que se distingue da tristeza pelo facto de a pessoa não conseguir nomear uma razão que explique o atual sofrimento. É característico de quem está deprimido não conseguir sentir mais prazer em atividades que anteriormente considerava como prazerosas, ocorrer uma diminuição do desejo sexual, haver uma diminuição ou um aumento acentuado do apetite, sem energia para assumir as responsabilidades diárias, dificuldades em dormir durante a noite, um desejo enorme de passar os dias deitado sem qualquer luz. Estes são alguns dos comportamentos típicos de quem está deprimido, e os quais perduram no tempo. Nestas situações, será necessário haver um acompanhamento psicológico e/ou o recurso a antidepressivos. No entanto, os estudos científicos sobre a depressão apontam o acompanhamento psicológico como o meio mais eficaz para o tratamento da mesma.

Luís Carlos Batista - Psicólogo