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Às vezes dá consigo a fazer estas perguntas?

O que significa ser normal? O que significa estar bem?


Se tentarmos definir “normalidade” pela positiva, isto é, pelo que poderá ser, e não pelo que não é, ocorre-nos logo que o conceito de normalidade deverá ser transcultural, ou seja não poderá estar vinculado a determinado padrão cultural, deverá incluir aspetos estruturais, que dizem respeito a características muitas vezes herdadas (traços) e processuais, isto é, características mais associadas ao desenvolvimento, (fases, etapas) e à educação e ao meio ambiente, aos diferentes estímulos e interações, o que nos motiva, como nos vamos descobrindo, construindo, posicionando (dimensões), deve também ser uma definição dinâmica (ir sendo com..., e transformando-se a partir de..., num processo de transferência,), dialética (em movimento constante com avanços e recuos, equilíbrios e desequilíbrios). Finalmente, o conceito de “normalidade” deverá incluir o que o próprio sente, reflete e observa sobre si e os outros, e o que os outros observam, sentem e refletem sobre ele.

A desordem não está no desequilíbrio ocasional, que faz parte do processo dinâmico dialético que é a vida, mas apenas em traços extremos, inadaptativos, inflexíveis e/ou causando sofrimento, que impedem o reencontro com o equilíbrio.

Talvez possamos dizer que a noção de normalidade, enquanto torre vertical, deve ser entendida, como mero constructo teórico, utópico, uma vez que, as várias funções (ou necessidades / identidade / níveis / traços - dependendo dos autores -) não necessitam de um equilíbrio vertical (tal como a Torre de Pisa), nem estático, mas tão só de um equilíbrio, que mantenha interceções (pontos de equilíbrio) de vários (fatores, funções, dimensões etc.,)  ou seja sem desregulações ou disrupções do processo de desenvolvimento individual e inter-relacional.

A normalidade estará então na possibilidade e capacidade de (re)encontrar (ir encontrando) um ponto (sucessivos pontos) de equilíbrio gerador(es) de bem-estar, capaz(es) de satisfazer as necessidades do próprio concomitantemente com as necessidades do meio ao longo das várias fases da vida.


Todos nós temos a riqueza e a raridade da Torre de Pisa, variamos no grau de inclinação, no lado, na exposição solar, na ornamentação, no estilo, etc. Esse facto, dá-nos a nossa individualidade. O nosso bem-estar reside na capacidade de convivermos com essa individualidade de forma saudável, mais do que na tentativa desesperada de “sermos direitos”, de “sermos como os outros”, ou de “sermos como um (qualquer utópico) modelo”. O nosso bem-estar reside também na capacidade de evitarmos o desmoronamento, reconhecendo os exageros prolongados e a rigidez, que poderão estar a impedir o reequilíbrio.

Se você tem um sentido para a sua vida e se sente ligado a pessoas, causas e objetivos, se você está em contacto com as suas emoções, ouve-as, aceita-as e decide o que fazer com elas, se é flexível, faz escolhas livres e responsáveis, sabe atender às suas necessidades, assim como às necessidades dos que lhe são próximos, se trata os outros com compreensão e respeito, se gosta de quem é, e o seu sentir, pensar e agir estão em relativa coerência, se aproveita as experiências da vida para crescer e criar um espaço de bem-estar à sua volta, ótimo, você está em equilíbrio. Se algumas destas áreas não estão como você gostaria, e tem dificuldade em perceber o quê, ou em saber o que fazer para melhorar, e, sobretudo, se a situação se arrasta há já algum tempo, talvez esteja na altura de pedir ajuda profissional para reencontrar o seu equilíbrio e bem-estar.

Saber viver connosco e com os outros, eis a dança mais desafiante e fantástica da vida.

Cristina Marreiros da Cunha - Psicóloga e Psicoterapeuta




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